Uma criança de apenas um ano e nove meses diagnosticada com artrogripose múltipla congênita, - uma condição rara que afeta articulações e músculos -, vem recuperando sua autonomia e já consegue realizar atividades comuns para crianças de sua idade, como pegar objetos, comer e brincar.
João Pedro nasceu sem conseguir movimentar braços, dedos, punhos e cotovelos e, graças ao tratamento realizado no Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO),foi possível iniciar a correção da deformidade ainda recém-nascido, com sete dias.
Ele, que foi encaminhado ao Instituto pelo Sistema Estadual de Regulação, deu início à correção da deformidade ainda nos primeiros dias de vida, fator fundamental para a melhoria do prognóstico, principalmente por ser um tipo de deformidade que não oferece muitas alternativas de tratamento.
“Quanto mais cedo esse paciente é tratado, maiores são as chances de melhorar a amplitude dos movimentos e restaurar a função. Isso porque, durante a fase de desenvolvimento, as estruturas ainda estão se formando e são mais frágeis, possibilitando melhor e mais rapidamente a remodelação dos tecidos”, explica a terapeuta ocupacional Maria da Conceição Soares, que vem acompanhando João Pedro desde sua chegada ao INTO.
Todo o tratamento é realizado com o uso de órteses estáticas, dispositivos externos projetados para imobilizar ou auxiliar determinada parte do corpo. O processo de reabilitação de João Pedro começou pelo cotovelo, onde as articulações apresentavam muita rigidez, causando limitação ao movimento articular.
“Em seguida, trabalhamos o alinhamento do punho com uma órtese mais longa. que mantém os braços posicionados à frente. Para possibilitar a rotação externa, foi desenvolvida uma órtese que mantinha os braços posicionados à frente. Depois, o foco foi melhorar a mobilidade nos dedos, já que havia rigidez na articulação metacarpofalângica - a “junta” que permite dobrar e esticar os dedos, essencial para segurar objetos e fazer força com a mão”, conta Maria da Conceição.
Recentemente, uma nova órtese foi adotada no tratamento com o objetivo de alongar a musculatura anterior, já que João Pedro tem rotação interna nos dois braços, o que pode provocar o deslocamento do ombro para trás. Assim, a órtese vai auxiliar no equilíbrio entre a musculatura posterior e anterior.
Para Carla da Silva, mãe do pequeno João Pedro, cada novo progresso do filho é motivo de comemoração. “Quando eu cheguei no INTO, ninguém tinha visto um caso parecido e isso me assustou muito, chorei demais. Mas agora meu coração é só alegria ao ver meu filho comendo as coisas com a mão, descobrindo o próprio rostinho, fazendo arte e descendo da cama sozinho”, celebra.
Além dos atendimentos semanais com a equipe da Terapia Ocupacional, João Pedro é acompanhado pela equipe multidisciplinar da Área de Reabilitação, que conta com fisiatras, fisioterapeutas e psicólogos, sendo monitorado ainda por especialistas em ortopedia pediátrica, cirurgia da mão e microcirurgia.
“O tratamento conservador, no caso de João Pedro, já recuperou quase a totalidade da autonomia do paciente para as tarefas cotidianas, como andar, brincar e se alimentar, garantindo a melhoria da qualidade de vida. Mas a intervenção precisa ser feita de maneira precoce, por isso o alerta é fundamental”, conclui Maria da Conceição.
*Matéria do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia do Ministério da Saúde
Foto: Acervo Pessoal/Reprodução Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO)